Almanaque
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Conheça a história de Guaratinguetá
O cotidiano e influência indígena e africana:
A rotina das primeiras famílias guaratinguetaenses era comum a época, uma família patriarcal, onde o homem administrava a economia doméstica e até mesmo recebendo a herança de suas mulheres. Pelos dados e fontes observamos vários dados interessantes de como Guaratinguetá mesmo tendo uma cultura católica e portuguesa como traço cultural predominante convivia com os costumes e as influencias indígenas e africanas. Como exemplo temos casos das primeiras povoadoras o hábito das rezas, o cultivo e manuseio das ervas, raízes, sementes e flores, o banho no rio, a utilização da coivara que é a queimada da terra antes do plantio. E nesse universo nasceu as histórias contadas pelas nossas bisavós com as misturas das lendas mitológicas do Brasil e a de nossa região como o boitatá, mãe d’água, saci Pererê e outras que alias merece ser resgatada e contada para as futuras gerações.
Já no aspecto cultural e cotidiana da influência africana temos exemplos em nossa culinária, segundo Maia (2010) de quitutes como as cocadas, quindins, pé de moleque, paçocas, quibebe, cuscuz, angus, mingaus, melados e o furrundum (doce de cidra preparado com melado e temperado com gengibre).
No aspecto arquitetônico em 1726, foi erguida uma capela dedicada à Nossa Senhora do Rosário devoção dos escravos e em 1757 foi criada a irmandade de São Benedito tão comemorado até os dias atuais. A capela Nossa Senhora do Rosário dos pretos de Guaratinguetá situava na atual praça e com o passar dos anos deixou de ter a importância social e religioso após a abolição da escravatura e colocada à venda com o consentimento das autoridades religiosas e por particulares foi demolida em 1935.
Temos também manifestações ricas da cultura afro como a umbanda e o candomblé destacando os bairros Alto das Almas, Tamandaré e outros locais da zona rural as diversas danças: os moçambiques, as congadas e o jongo.
Guaratinguetá no contexto brasileiro- No período colonial, Guaratinguetá foi desbravada em 1630 e em 1651 foi elevada a vila. Nos primeiros tempos, Guaratinguetá vivia uma economia de subsistência, ou seja, foi desenvolvido a policultura baseada na agricultura e plantações: de milho, mandioca, arroz, feijão e na indústria doméstica e artesanal como a farinha, melado, rapadura e algodão e em sua maioria a criação de porcos. De acordo com Herrmann (1986) a sobrevivência no período colonial da região do Vale e em específico Guaratinguetá não proporcionava lucros diretos para a Coroa portuguesa. Desse modo os primeiros povoadores tiveram uma certa autonomia e uma economia independente. Porém a partir do século 17 novos rumos movimentou a vila. Ela se tornou um lugar de pouso e abastecimento para a busca do ouro nas Minas Gerais ela até sediou uma Casa de Quintos do ouro em 1704.
Nessa busca desenfreada pelas pedras preciosas de certa forma Guaratinguetá participou da Guerra dos Emboabas. Emboabas ou forasteiros era uma expressão pejorativa dos europeus que vieram depois para explorar o ouro depois dos bandeirantes. Os bandeirantes paulistas por serem da terra e primeiros desbravadores lutou pela exclusividade a posse do ouro. Em Guaratinguetá de acordo com Maia (2010) havia um morador português chamado Domingos Gonçalves Candido que foi descoberto como um espião dos emboabas ocasionando assim várias execuções e mortes em nome da coroa portuguesa.
Nesse contexto do ciclo do ouro e minerador surgiu duas atividades importantes para a construção cultural e econômica da cidade: a economia do açúcar e a figura típica do Vale: a do tropeiro e do mascate favorecendo assim a sua atividade tão prospera e característico da cidade que é o comércio. Ainda de acordo com Maia(1995)graças ao comércio de artigos novos e luxuosos desembarcados no porto de Paraty essas novidades chegavam a vila por meio de tropas de muares (mulas) e seguiam para os engenhos levados pelos mascates e tropeiros .E assim vieram novos moradores vindos de Portugal e de Minas dando origem a novos bairros como a Pedreira na saída para Paraty e o Alto das Almas.
Referências:
HERRMANN, Lucila. Evolução da Estrutura Social de Guaratinguetá num Período de Trezentos Anos. USP. São Paulo, 1986.
MAIA E MAIA, Tom e Thereza Regina de Camargo. Guaratinguetá, ontem e hoje. Noovha América. São Paulo. 2010.
MAIA E MAIA, Tom e Thereza Regina de Camargo. Memórias do Comércio de Guaratinguetá. Ed. Sindicato do Comércio Varejista de Guaratinguetá e Associação Comercial e Industrial de Guaratinguetá. 1995.
PASIN, José Luiz. Algumas notas para a história do Vale do Paraíba (Desbravamento e Povoamento). Conselho da Cultura, Ciência e Tecnologia. São Paulo. 1977.
Foto: LARGO DO ROSÁRIO - GUARATINGUETÁ - SP. - 1923
Largo do Rosário, atual Praça Conselheiro Rodrigues Alves, centro da cidade na década de 20 retirado Facebook Vale Ver Guara de Zeck Broca.
Dando continuidade aos 389 anos de Guaratinguetá e o aniversário de nossa cidade, iremos prosseguir na construção histórica na qual todos nós que aqui habitamos fazemos parte desse enredo.
Devida a perda de algumas partes da sesmaria (terras que os reis de Portugal cediam aos novos povoadores) a Viscondessa de Vimieiro ficou apenas com as terras do Vale do Paraíba. E em seu nome enviou desbravadores conhecidos como os sertanistas ou os bandeirantes. O mito dos bandeirantes é muito presente na cultura e na construção do ideário do homem paulista. Algumas referências trazem o bandeirante ora como herói como aqueles homens destemidos, ora como o vilão que ao desbravar novas terras ficou deslumbrado com a possibilidade de acumular ouro e minerais por meio do trabalho escravo indígena e africana. Independente da interpretação é nesse contexto que formou o homem valeparaibano e guaratinguetaense.
Nessa fase de fundação e povoamento novos personagens surgiram: os bandeirantes, os europeus, indígenas, africanos, a figura do tropeiro, do mascate, ou seja, gente da terra que organizou os primeiros passos na vila de Santo Antônio de Guaratinguetá.
Desse modo, em 1646, Félix concedeu ao capitão Domingos Luiz Leme, uma grande sesmaria no sertão de Guaratinguetá, dando origem a uma povoação elevada à categoria de vila em 13 de fevereiro de 1651 com o nome de vila de santo Antônio de Guaratinguetá, levantando o pelourinho e instalando a primeira Câmara Municipal. A primeira Câmara e Cadeia Municipal foi construída na praça principal que é hoje a praça conselheiro Rodrigues Alves e o primeiro presidente do senado da câmara foram Capitão Braz Esteves Leme. Os primeiros bairros estabelecidos na vila foram: Curupaitiba, Itaguaçutiba e Terereca (que atualmente se localiza em Pindamonhangaba) Itaguaçu hoje Aparecida e Piagui e Mato Dentro( zona rural de Guaratinguetá).
Os primeiros que aqui habitaram eram de origem portuguesa trazendo assim toda a influência de sua origem como podemos observar a própria origem da vila se desenvolver ao redor da capela dedicada ao Santo Antônio. Na cultura religiosa popular a devoção a Santo Antônio remete não apenas ao casamento, mas a conquista da independência de Portugal de sua união com a Espanha e até mesmo a conquista das terras brasileiras.
HERRMANN, Lucila. Evolução da Estrutura Social de Guaratinguetá num Período de Trezentos Anos. USP. São Paulo, 1986.
MAIA E MAIA, Tom e Thereza Regina de Camargo. Guaratinguetá, ontem e hoje. Noovha América. São Paulo. 2010.
MAIA E MAIA, Tom e Thereza Regina de Camargo. Memórias do Comércio de Guaratinguetá. Ed. Sindicato do Comércio Varejista de Guaratinguetá e Associação Comercial e Industrial de Guaratinguetá. 1995.
PASIN, José Luiz. Algumas notas para a história do Vale do Paraíba (Desbravamento e Povoamento). Conselho da Cultura, Ciência e Tecnologia. São Paulo. 1977.
VAINFANS, Ronaldo. Santo Antônio na América Portuguesa: religiosidade e política. REVISTA USP, São Paulo, 2003. https://www.bbc.com/portuguese/brasil-45428722. Entrevista com o historiador Diego Amaro de Almeida e o pesquisador Paulo Rezzutti.
Pintura: Ciclo da Caça ao Índio é uma pintura de Henrique Bernardelli. A data de criação é 1922
Publicado em 3 de março de 2023 por Marina Tatiana Ferreira Costa Pinto.
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