A Praça Conselheiro Rodrigues Alves, na década de 1930, anteriormente era chamada durante o Império, Largo 13 de Maio. Principal praça central da cidade.
Homenageia o Conselheiro Rodrigues Alves, eleito por duas vezes Presidente da República. Uma estátua com sua imagem foi inaugurada no local em 1923.
O monumento foi fabricado em bronze sobre pedestal de granito. Na obra do artista Antonino Pinto de Matos está inscrito: “ao seu grande filho Conselheiro Rodrigues Alves, Guaratinguetá”.
Desenho do professor José Roberto de Andrade (Zico Jordan)
Realizado com bico de penas a nanquim sobre papel vegetal reproduzindo as antigas fotografias de Erwin Schellenberg.
Texto: Marina T. F. C. Pinto / Referência: camaraguaratingueta.sp.gov.br.pontos-turisticos-2/
A Cavalaria como tradição de Guaratinguetá começou com a devoção a São Gonçalo que é considerado o santo dos tropeiros, viajantes e violeiros. A devoção iniciou, segundo Thereza Maia, quando ergueram no ano de 1726 uma capela em louvor ao santo, pelos homens do caminho, ou seja, os tropeiros, os vendedores ambulantes, próximo ao Rio Comprido, hoje Ribeirão de São Gonçalo.
Como os tropeiros não tinham como cuidar da manutenção permanente da capela, pois estavam sempre a caminho para suas vendas, a capela começou a abrigar em 1768 a Irmandade de São Benedito com a missão de também zelar o altar de São Gonçalo.
Sendo assim, São Gonçalo e São Benedito tornaram se parceiros e ocuparam os altares com a permanência da tradição da Cavalaria. Algo interessante para observar e analisar. A Cavalaria, que é uma tradição dos ex escravizados e cativos durante o Brasil colonial e Imperial, na verdade, se originou em homenagem primeira a São Gonçalo.
Como mencionado anteriormente, São Gonçalo é o santo dos viajantes, violeiros e tropeiros, em que o principal motor de transporte e comércio era o cavalo. Apesar de a Cavalaria ser uma tradição medieval portuguesa trazido por eles ao território brasileiro, no Brasil colonial, aproximadamente em 1560, cavalaria se originou em homenagem a ele.
Aqui em nossa cidade, a Cavalaria tem como tradição desfilar pelas ruas de Guaratinguetá no Domingo de Páscoa, percorrendo um total de 20 km. É uma sociedade organizada com um Estatuto registrado no 1 Cartório de Notas de Guaratinguetá.
Desse modo, percebemos que a Cavalaria que remonta desde a Europa medieval e no Brasil colonial, a devoção a São Gonçalo, aqui em Guaratinguetá transformou se uma identidade única e singular ao devotar uma parceria junto ao São Benedito. Assim, essa parceria dos altares trouxe para essa manifestação, além dos tropeiros e homens do caminho, os cativos, os ex- escravizados, ou seja, o povo brasileiro, fazendo desse catolicismo popular uma das 7 maravilhas do patrimônio cultural da cidade.
Texto: Marina T. F. C. Pinto / Foto: Arquivo pessoal de Nelson Querido
Com a proclamação da República, o ensino primário e gratuito foi sendo gradualmente uma obrigação do Estado e, por consequência, foi sendo ampliado cada vez mais. O Estado de São Paulo foi o palco da propaganda republicana, investindo massivamente na expansão desse ensino.
Desse modo , havia a necessidade de uma sociedade com cidadãos aliados ao novo regime. Os grupos escolares surgiram neste contexto, com o intuito de promover o novo sistema republicano que estava nascendo. Uma estratégia de ação política, ou seja, um projeto social.
Assim, aquelas escolas que antes eram espalhadas, agora se reúnem em um único local. Dessa forma, professores, alunos, inspetores e diretores se concentravam normalmente na região central da cidade. Esta aglutinação denominou-se “grupos escolares”.
O primeiro grupo escolar de Guaratinguetá foi concretizado quando, no fim de 1894, o então inspetor literário e professor João M. de Freitas Brito propôs a ideia da fundação de um grupo escolar, a exemplo do que se fazia em outras cidades do Estado.
Em 24 de janeiro de 1895, o grupo foi instalado no prédio situado na praça Conselheiro Rodrigues Alves, que na época se chamava Largo 13 de Maio, para o funcionamento de uma escola, por meio da doação do advogado, o Dr. Flamínio Lessa.
Conforme o anuário do Estado de São Paulo, quando instalado o grupo, primeiro funcionou a seção masculina, tendo o governo do Estado julgado necessária a edificação de um prédio próprio.
Assim, a Câmara Municipal desapropriou um prédio anexo e alugou um local na atual Coronel Pires Barbosa - na época, chamava-se “Rua Municipal”-, onde o grupo escolar passou a funcionar a partir de 1896, data em que foi criada a seção feminina.
Já nos anos de 1914 e 1915, foi construído um prédio para a instalação de um quartel de manobras militares, onde atualmente é a rua Tamandaré, e a partir de 1920 ele passou a abrigar o Grupo Escolar Doutor Flamínio Lessa, que funcionou como escola estadual até o final de 2017.
Seu prédio foi tombado pelo Conselho do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado de São Paulo. Por seu valor arquitetônico, é monumento histórico municipal e estadual. Atualmente, funciona como Diretoria de Ensino que engloba várias cidades da região do Alto Vale do Paraíba.
A escola Dr. Flamínio Lessa deixou saudades em muitos estudantes e educadores e construiu riquezas de recordações de histórias e memórias. Afinal, quem foi o responsável pela concretização dessa saudosa escola e quem foi seu patrono?
O Dr. Flamínio Antônio do Nascimento Lessa nasceu no dia 7 de setembro de 1820, na cidade de São Paulo. Era filho do tenente Manoel Gonçalves Lessa e de dona Francisca Bonifácia Lessa. Formou-se em Direito pela faculdade de São Paulo em 1843. Logo que Guaratinguetá foi elevada à categoria de cidade, Flamínio Lessa foi promovido a Promotor público da primeira Comarca do Estado, e depois nomeado juiz. Filiou-se ao Partido Liberal; mesmo no Império, defendia os ideais republicanos e abolicionistas.
Quando ficou doente, pediu ao seu enteado, o padre Francisco Jacinto Pereira Jorge, com o testemunho do tabelião da cidade, a distribuição de parte de suas economias às assistências sociais. Sua residência, seu principal patrimônio, deveria ser utilizada somente para a instrução pública, para realizações educacionais. Em1877 morreu, aos 57 anos. Era conhecido como “advogado do povo”, pois tinha uma reputação de solidariedade para com todos aqueles da cidade que o acolheu.
Sendo um homem do seu tempo, já visualizava o seu patrimônio, um espaço para a educação e a instrução pública.
Conhecer a história das instituições escolares nós faz relembrar de momentos importantes de nossas memórias, mas também de nossa cidade, principalmente, de personagens que contribuíram para fazer uma Guaratinguetá mais iluminada com o conhecimento.
Texto: Marina T. F. C. Pinto / Referências: COBARGE, Debora Maria Nogueira. Elites regionais e escola pública primária/organização Cesar Augusto Eugênio, Mauro Castilho Gonçalves,1ed. Curitiba, PR. SENNA. Homero. Um mineiro de Guaratinguetá.1974, RJ / Foto: vivointensamenteascoisasmaissimples.blogspot.
Nascido em Lorena no dia 8 de outubro de 1856, filho do coronel José Vicente de Azevedo e de Angelina Moreira de Castro Lima, aos 13 anos ficou órfão de pai, e foi estudar em São Paulo sob a responsabilidade de seu tio.
Foi um homem de muitas facetas e empreendimentos. Em 1880, assumiu na região a chefia do Partido Conservador, em Lorena, sendo eleito vereador até a proclamação da República.
Foi fazendeiro nos municípios de Lorena, Piquete, Guaratinguetá, Cunha, Pindamonhangaba e Itajubá, e um dos pioneiros na introdução do trabalho livre em suas propriedades, promovendo o estabelecimento de várias colônias agrícolas, como a de Canas (Lorena), Quiririm (Taubaté) e Sabaúna (Mogi das Cruzes).
Em 1861, adquiriu uma grande extensão de terras na Serra da Mantiqueira, no atual município de Delfim Moreira, onde fundou a Fazenda de São Francisco dos Campos do Jordão.
Foi um dos fundadores do Engenho Central de Lorena, sendo agraciado pelo Imperador D. Pedro II com a Comenda da Imperial Ordem da Rosa, e, no dia 7 de maio de 1887, com o título de Barão de Bocaina.
Nas próximas edições traremos as características desses empreendimentos agrícolas do então Barão da Bocaina.
Texto: Marina T. F. C. Pinto / Referência: PASIN. José Luiz. Os Barões do Café. Titulares do Império no Vale do Paraíba paulista. Vale Livros, Aparecida, 2001. / Imagem: Barão da Bocaina, retirado do blog Diegoamaro.com
Remontando entre a segunda metade do século XIX e as primeiras décadas do século XX, Guaratinguetá vive da prosperidade gerada pelo café, que consolida seu desenvolvimento urbano e sua importância no Vale do Paraíba, principalmente no cenário político nacional. Nunca é demais lembrar que, foi deste município, que nasceu o até então conselheiro do Império e
Presidente da República Francisco de Paula Rodrigues Alves (1848-1919), revelando o destaque e influência no âmbito nacional.
Com o desenvolvimento do comércio e a indústria, há o deslocamento do centro econômico do campo para a cidade, trazendo novos atores para a cena política, desejosos por mudanças. Embora estivesse em voga muitas ideologias políticas vindas da Europa, o tradicionalismo, o sentimento religioso e as relações de subordinação e domínio inviabilizaram a difusão destas no município, a destacar o integralismo e o comunismo, cabendo salientar a extrema aversão da população a este ultimo.
Com o advento da Segunda Guerra Mundial, a partir de 1939, a Alemanha Nazista parte em busca de seu “espaço vital”, conquistando boa parte da Europa até 1942. Na tentativa de bloquear as rotas navais dos aliados, a Alemanha emprega seus submarinos para atacar navios por todo Atlântico, e isso inclui o litoral brasileiro. Com os constantes ataques e naufrágios de navios brasileiros por submarinos alemães (U-boats), houve uma grande mobilização social brasileira para o conflito que eclodia, pressionando o até então presidente do Brasil, Getúlio Vargas, a se juntar as forças aliadas.
Em 26 de julho de 1942, o navio Tamandaré é atacado por um submarino alemão, próximo de Trinidad e Tobago, vitimando quatro tripulantes. O navio afundou em 40 minutos e 48 membros da tripulação foram resgatados.
Em agosto de 1942, os jornais noticiavam o naufrágio do Tamandaré, e que um dos sobreviventes era o 2º piloto Martim Cabral Passos. Ele era nascido em Guaratinguetá e que posteriormente, ingressou na Marinha Mercante. Seu pai, dr. Sinésio Passos, era um conhecido advogado no Vale, atuando nos fóruns de Cruzeiro e Guaratinguetá.
O fato repercutiu fortemente na cidade e rapidamente mobilizou a juventude guaratinguetaense em torno de reuniões cívicas e comícios, distribuição de panfletos e que, gradativamente, começou a ganhar corpo, resultando na “Campanha Cívica de Guaratinguetá”.
Este movimento trabalhou ativamente na mobilização e divulgação de informações pelo rádio, todos os dias ao final da tarde, por meia hora.Estudantes, lavradores, operários, profissionais liberais, entre tantos outros, vão consolidando gradativamente os esforços cívicos na cidade.
A partir de 22 de agosto de 1942, com a declaração de guerra do Brasil à Alemanha e a Itália, a Campanha Cívica acelera seus esforços. Outros braços desse movimento se estenderam por meio da Campanha do metal (visando arrecadar materiais para construção de aviões e navios), cursos de enfermeiras de emergência e formação de pilotos de aviação. Foram organizadas missões para São Paulo e Rio de Janeiro, com o objetivo de captar mais recursos e adeptos a causa. Destaca-se também a Campanha dos Aviões, que resultou na doação de recursos financeiros e aquisição de três aviões.
Com o fortalecimento desta mobilização no município, guaratinguetaenses figuraram na proteção do litoral (em missões de vigilância e defesa), na Força Aérea Brasileira e posteriormente, comporiam parte na Força Expedicionária Brasileira.
O Brasil adotou leis rígidas quanto aos imigrantes alemães, italianos e japoneses, acusados de possivelmente apoiarem os respectivos regimes totalitários.
Nesse quesito, em outubro de 1942, a Escola Agrícola em Guaratinguetá se convertia em um campo de internamento, para onde se encaminhava estas pessoas e outros estrangeiros simpáticos a causa nazi-fascista e os mantinha em isolamento e trabalho interno.
Em novembro de 1942, instala-se um núcleo da Legião Brasileira de Assistência em Guaratinguetá, com o objetivo prestar apoio às famílias dos que eram convocados para o conflito.
No município, estimularam a participação dos guaratinguetaenses, promovendo cursos e capacitações. Foi extinta na cidade em 1945, sendo substituída pela Associação de Ex- Combatentes de Guaratinguetá.
Com a chegada da Força Expedicionária Brasileira na Itália, em 1944, ela passou a atuar no teatro de operações já invadido pelo temido Exército alemão (Wehrmacht). Desembarcam na cidade de Napoles, milhares de expedicionários brasileiros, ou carinhosamente chamados de “pracinhas”, que se juntaram as forças americanas, enfrentando duras batalhas, com destaque a Monte Castelo, Montese e Fornovo di Taro.
Guaratinguetaenses participaram da tomada do monte Castelo, principal conquista militar do Exército brasileiro. Uma imagem de Nossa Senhora Aparecida foi oferecida a FEB e celebrou- se uma missa em Pisa, na Itália, confirmando o elo religioso da cidade com o conflito, uma vez que a imagem foi encontrada nestes domínios, em 1717.
Guaratinguetá foi a segunda cidade do estado de São Paulo a mandar mais pracinhas para Itália: 58 soldados, sendo relatada duas baixas em combate. Em diversas cartas, é comum os relatos sobre a crença na vitória final, o desejo de regressar a terra natal e a dificuldade em acostumar com as baixas temperaturas na Itália.
Com as primeiras notícias da capitulação alemã, em maio de 1945, Guaratinguetá recebe tais informações com impressionante vibração e jubilo, com celebrações e discursos na praça Conselheiro Rodrigues Alves.
Os primeiros expedicionários guaratinguetaenses retornam da Itália em 20 de maio de 1945, movimento que gradativamente ocorreu até setembro do mesmo ano.
Hoje, dois monumentos celebram a memória do pracinha em Guaratinguetá, encontrando-se em uma rotatória próxima ao terminal rodoviário, no encontro das ruas cel. Pires Barbosa com a Visconde de Guaratinguetá.
Em síntese, a mobilização de Guaratinguetá em torno do pracinha que combateu na Itália, durante a Segunda Guerra Mundial, é algo sem precedentes na história do município e pode ser considerado uma das mais importantes demonstrações de civismo até então.
Texto: Marina T. F. C. Pinto / Foto: Em Guaratinguetá, chegada de pracinhas e recepção da Rua Dr. Martiniano, julho de 1945. Fonte da Imagem, (Museu e Arquivo Frei Galvão). Os Pracinhas de Guaratinguetá, Parada Militar. Soldados Expedicionários da FEB ( Força Expedicionária Brasileira), na Rua 9 de julho, 1945. / Colaboração: Zeck Broca. Vale Ver Guará
Apesar de não esquecermos da nossa origem indígena, em específico, puri, é na pequena capela de pau a pique, dedicada a Santo Antônio, que se inicia a colonização de nossa terra pelos portugueses. Antes mesmo da data oficial de fundação, começou a ser povoada aproximadamente em 1628, quando Jacques Félix e seus filhos se instalaram na região.
Guaratinguetá foi fundada no dia 13 de junho de 1630, em homenagem a Santo Antônio, e de acordo com o Livro Tombo da Matriz de Santo Antônio de Guaratinguetá, foi erguida uma capela de pau a pique, coberta de sapé, sob a invocação do santo, cuja festa se comemora no dia 13 de junho. Segundo Thereza Maia (2010), assim iniciou o povoado de Guaratinguetá, pois era comum os colonizadores portugueses batizarem ou homenagearem o local conquistado com o nome do santo do dia.
Com a consolidação do povoamento, em 1701, foi edificada uma igreja maior, feita de taipa de pilão. Essa igreja durou mais de um século, e serviu de Matriz quando o local se tornou ponto de passagem para aqueles que transitavam entre Minas Gerais e Paraty, e também entre as vilas de Taubaté e São Paulo.
Segundo Gayen (2018), a Matriz de Santo Antônio recebeu influências de renomados entalhadores cariocas, enaltecendo o estilo característico da época, que era o barroco/ rococó. Em1773-1780, com o aspecto que se mostra no desenho do austríaco Thomas Ender, de 1817, ostentava-se apenas uma das torres completa. Sua atual configuração se deve à grande reforma (1822-1847), e o último alteamento da torre se deu em 1913, quando se abrem os nichos para os evangelistas na parte externa, tendendo para um estilo neoclássico.
Nos altares do corpo da nave da catedral de Guaratinguetá é que se expõe uma linha do tempo evolutiva das diversas tendências, devido às sucessivas reformas.
Em 26 de junho de 1952, a Matriz foi tombada como “obra de valor histórico, como monumento da fundação de Guaratinguetá”.
No ano de 1996 ela foi alçada ao status de Catedral, mas em 2016 o Papa Francisco transferiu esse título para Aparecida, e ela voltou a ser Igreja Matriz.
Texto: Marina T. F. C. Pinto / Referências: https://sanctuaria.art/2018/10/07/matriz-de-santo-antonio-guaratingueta-sao-paulo/ GAYEAN, Thales Vargas. A Talha da Matriz de Santo Antônio de Guaratinguetá: o Rococó Carioca no Vale do Paraíba. Universidade Federal de Ouro Preto, Mariana, 2018. MAIA,Theresa ;MAIA,Tom.Conto,Canto e Encanto com a minha História: Guaratinguetá ontem e hoje. São Paulo, 2010. / Foto: @i_mmagens @rmarquezini
Muito se fala atualmente, na mídia brasileira, sobre os indígenas em nossa sociedade. Muitas vezes idealizados como personagens folclóricos; outras, marginalizados, apesar de serem os nativos desta terra. Em consequência desse processo, reivindicam até hoje por melhores condições de proteção aos seus territórios, que não são respeitados.
Entre o processo de resgate da memória dos povos nativos, em nossa região do Vale do Paraíba encontravam-se os indígenas puris, ou seja, antes da chegada da colonização e influência portuguesa, esses povos já se encontravam aqui.
De acordo com Paulo Pereira dos Reis, os puris e os guaianás - indígenas da região do Vale do Paraíba -, vinham do litoral de Angra dos Reis e Paraty, serra acima, deixando a velha trilha, denominada pelos guaianás, que passava pelo atual município de Cunha em demanda do porto de Guapacaré (atual cidade de Lorena), onde atravessavam a Mantiqueira pela garganta do Embaú (atual cidade de Cruzeiro), alcançando as terras dos cataguás.
Foi por essa "senda dos guaianás" que a expedição de Martim de Sá (filho de Salvador Corrêa de Sá, governador do Rio de Janeiro), depois de ter desembarcado em Paraty, galgou, em 1597, a Serra do Mar, desceu para o Vale do Paraíba e penetrou em Minas Gerais.
Ainda de acordo com Reis, na região de Ipacaré (Guapacaré ou Hepacaré), que se estirava da Vila de Guaratinguetá até o amplo território da antiga Freguesia da Piedade (Lorena), que terminava na Barra do Rio Piraí, habitavam, como já foi dito, os puris. Além da Garganta do Embaú, tinham vivido os cataguás, seus parentes, que foram expulsos por Jaques Félix, fundador de Taubaté, para os sertões das Minas.
Ou seja, nos leva a refletir que a presença indígena na região, com a presença portuguesa, foi aos poucos de desfalecendo e não tiveram um local próprio, apenas transitório, pois estavam a todo momento se deslocando para não serem escravizados.
Vários estudos comprovam que as cidades valeparaibanas foram construídas com a presença política portuguesa juntamente com a mão de obra indígena. Os puris foram resistindo e “fugindo” do contato com o homem branco.
Um fato curioso em nossa região foi a construção de um aldeamento na cidade da atual Queluz que, aos moldes dos aldeamentos jesuíticas que tinham o objetivo de catequizar e civilizar os indígenas, em 12 de março de 1801 foi instalada a Nova Aldeia de São João da Queluz, cujo “Auto de Posse” foi lavrado pelo escrivão da Câmara de Lorena. O nome da aldeia era uma homenagem a Dom João, Príncipe Regente, e ao Palácio de Queluz em Lisboa, onde nascera o príncipe Dom Pedro. A bênção ocorreu diante do pároco da aldeia, Francisco das Chagas Lima, e os indígenas e o oratório passaram a denominar-se Igreja Matriz de São João de Queluz.
A tentativa forçada civilizatória desses povos não deu certo. Os moradores aos arredores também tinham interesses nas terras, dispersando os indígenas à Mantiqueira. Para se ter uma ideia, em 1831 restavam somente seis puris em Queluz: Bento, Antonia, Anacleto, Lourença, Gertrudes e Inês.
Relembrando que essas vilas, como Lorena, Queluz, Cruzeiro e outras próximas foram se emancipando. Porém, eram anteriormente pertencentes à Vila de Santo Antônio de Guaratinguetá, e outras cidades do Vale surgiram por meio de aldeamentos, como São José dos Campos, Guararema (antiga Nossa Senhora da Escada) e Queluz, próximo a nossa cidade.
De acordo com o Centro de Memória do Povo Puri, no último censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), realizado em 2010, foram registrados 675 puris, sendo 335 autodeclarados em Minas Gerais, 169 no Rio de Janeiro, 113 no Espírito Santo e 24 em São Paulo.
Resgatar a memória dos povos originários e de nossa região é um trabalho contínuo na construção da memória, não somente de um povo, mas de cidadania e de nossa própria brasilidade.
Texto: Marina T. F. C. Pinto / Referências: Eddy Carlos. http://redescobrindoovale.blogspot.com/2016/09/a-vila-dos-puris.html. Centro de Memória povo Puri: https://povopuri.wixsite.com/memoriapuri/. MENDONÇA. Regina Katia Rico Santos de. Escravidão indígena no Vale do Paraíba: Exploração e conquista dos sertões da capitania de Nossa Senhora de Itanhaem, século XVII, Universidade de São Paulo, 2009. REIS, Paulo Pereira. Os Puri de Guapacaré e algumas achegas à História de Queluz. Sem data. Sociedade dos Estudos Históricos. / Imagem: Aquarela ' A Dança dos Puris ', 1835, Johann Moritz Rugendas.
Oscar Niemeyer Soares Filho (15/12/1907 - 05/12/2012) nasceu no bairro de Laranjeiras, no Rio de Janeiro. Em 1928 casou-se com Anita Baldo, filha de imigrantes italianos, com quem teve uma filha. Para o sustento, trabalhava com o pai na tipografia da família.
Em 1929, entrou para a Escola Nacional de Belas Artes no Rio de Janeiro, onde concluiu arquitetura, em 1934. Iniciou-se na profissão como estagiário no escritório de Lúcio Costa e Carlos Leão.
Reconhecido internacionalmente como um dos mais importantes arquitetos do século XX no Brasil e em diversos países, dentro de sua trajetória Guaratinguetá fez também parte de sua história e legado.
De acordo com Ana Cristina Canettieri, as obras de Oscar Niemeyer no Clube dos 500 foram construídas entre os anos de 1951 a 1953. Nessa época a cidade de São Paulo vivia uma efervescência na cultura, artes, na engenharia e arquitetura com inúmeras obras impulsionadas pelas empresas BNI e CNI, comandadas por Orozimbo (fundador e idealizador do Clube), as quais Oscar era um dos colaboradores.
Nesse período, em São Paulo, Oscar já projetava a coleção de edificações do Parque Ibirapuera para a comemoração do IV Centenário de São Paulo, e edifícios reconhecidos, como Montreal, Califórnia, Triângulo e Copan.
Anterior a esse empreendimento, Oscar já revelava sua genialidade com o edifício-sede da Organização das Nações Unidas (ONU), em 1947, após ganhar um concurso internacional de arquitetos e patrimônios referência nos estados do Rio, Minas e São Paulo.
Na fotografia é uma de suas vindas a Guaratinguetá. Oscar Niemayer é o quarto a direita, ao lado.
Devido a várias viagens que fazia por não gostar de avião, no caminho entre Rio e São Paulo, por meio da via Dutra, Oscar hospedava-se em Guaratinguetá na casa de Orozimbo Loureiro, e por essa amizade, fizeram-se, em áreas particulares em ambos os lados da Dutra, as suas obras:
No sentido Rio-São Paulo, nas dependências do Hotel Clube dos 500: 20 apartamentos para hóspedes, restaurante, piscinas e trampolins, portaria e pilone.
Do outro lado da via Dutra, sentido São Paulo-Rio: No interior do bairro, a Casa das Seringueiras, e nas dependências da área de propriedade da Rede Graal: lanchonete, posto de combustível e restaurante.
Para se ter ideia da relevância de suas obras no Clube dos 500, o projeto do Hotel foi capa de uma conceituada revista de arquitetura e urbanismo em 1951 - Revista Acrópole. Em suas obras e fachadas refletiram-se as características harmônicas do grande arquiteto modernista.
Desse modo, podemos afirmar que um expoente da arquitetura deixou sua marca também na cidade de Guaratinguetá, e por que não reconhecer que Orozimbo Loureiro e Oscar Niemeyer contribuiram para uma abertura de modernidade vivenciada no Brasil e que aqui se refletiu? Suas obras aqui construídas precisam ser reconhecidas e valorizadas, pois representam um acervo e marco característico. É também sua trajetória anterior à construção da então nova capital do Brasil: Brasília.
Algumas obras sofreram um processo de descaracterização; felizmente, facilmente reversíveis. O conjunto arquitetônico do Clube dos 500 foi tombado em 2023 como patrimônio do Estado de São Paulo pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico (Condephaat).
Texto: Marina T. F. C. Pinto / Referências: CANETTIERI, Ana Cristina. No meio do caminho. Clube dos 500. 2018, @FotoClubedos500. https://www.archdaily.com.br/br/997036/classicos-da-arquitetura-clube-dos-500-oscar-niemeyer / Fotografia: 📸 Nelson Kon, 2018, da página: @fotoclubedos500
João Evangelista de Faria, conhecido popularmente como "João Rural", nasceu em 1951 na cidade de Paraibuna, aqui na região do Vale do Paraíba paulista, e faleceu em junho de 2015. Teve uma vida dedicada à defesa, preservação, fortalecimento e divulgação da cultura caipira.
Em 40 anos de pesquisa, reuniu um acervo de 300 horas de vídeos, livros, jornais e revistas, em que foi fotógrafo, redator, revisor, diretor e editor. Suas obras mais conhecidas são os livros de suas viagens gastronômicas em que se dedicava em preservar as receitas antigas dos primeiros caipiras e do homem do campo.
Esteve diversas vezes em Guaratinguetá e cidades próximas, para não se perder do legado da nossa comida típica.
Atualmente, há uma homenagem em sua memória na placa da rodovia dos Tamoios, por meio da lei nº 16.462, de 8 de junho de 2017, após ter sido aprovada pela Assembleia Legislativa de São Paulo e promulgada pelo então governador do Estado, Geraldo Alckmin.
Texto: Marina T. F. C. Pinto / Referências: Referências: http://www.chaocaipira.org.br/joao_rural. https://www.paraibuna.sp.gov.br/noticias/homenagem-placa-na-rodovia-dos-tamoios-recebe-o-nome-do-pesquisador-da-cultura-caipira-joao-rural
Este relato contém a memória de João Roberto Toledo de Andrade, nascido em Guaratinguetá e criado em Cunha. Atualmente, mora em Cuiabá-MT.
Ele vem nos contar um pouquinho sobre a história de seu pai, que também era da nossa cidade.
Sua história nos traz algo interessante sobre uma cultura popular das décadas de 1970 e início do ano de 1990. Trata-se do jogo do bicho e apostas de cavalo.
O pai de João Roberto era apontador de jogo de bicho no Bar do Obara, na Praça Conselheiro Rodrigues Alves. Ele morava no bairro Campo do Galvão, e seu primeiro trabalho foi no Banco, de contratado da Protege, no antigo Unibanco, localizado em frente à Matriz Santo Antônio.
Após, trabalhou como guarda-noturno na escola municipal no Alto das Almas. O nome dele era João Teixeira de Andrade, conhecido como "João Batata". Era uma figura muito conhecida na década de 1980.
Segundo o historiador Luiz Antônio Simas, o jogo do bicho originou-se logo após a Proclamação da República, em 1893. A loteria popular mais famosa do Brasil surgiu como solução para financiar o Jardim Zoológico do Rio de Janeiro, que pertencia ao Barão de Drummond. Com o fim da Monarquia, o parque perdeu o subsídio público e arriscava fechar, mas foi salvo pela iniciativa, sugerida por um mexicano morador da cidade.
Ao longo dos anos, no entanto, foi proibida, mas continuou de forma corriqueira em todas as cidades brasileiras, e Guaratinguetá não fugiu à regra.
Esse relato nos mostra como esse jogo lúdico e popular ficou na memória e no imaginário dos brasileiros. Quem nunca pelo menos ouviu uma pessoa falar que iria apontar um bicho porque sonhou e poderia ser dessa vez que ganharia a aposta?
Ainda, segundo o relato de João Roberto Toledo de Andrade, seu pai fazia apostas de corrida de cavalo de um grupo de amigos em São Paulo. Ele ia toda semana para a capital.
Nessa época seus pais tinham se separado. Sua mãe tinha família em Cunha, e se mudaram para a cidade vizinha, mas suas lembranças eram ótimas quando visitava seu pai, quase todo final de semana, em Guaratinguetá.
Como disse lá no início dessa história, sua cidade natal continha várias lembranças e histórias para contar, relembrar, rir bastante e se emocionar com os momentos que ficaram guardados na mente e, principalmente, no coração.
Texto: Marina T. F. C. Pinto / Fonte: Relato de @joao1973roberto / Arte: Vanessa Marins / Revisão: Flávia Flávia Farath
Escola Normal de Guaratinguetá (1930)
Rua Visconde de Guaratinguetá (1930)
Praça Conselheiro Rodrigues Alves (1930)