Na época a região do Vale era conhecida como SABARABOÇU, “montanha toda cheia de prata”. Assim, o Governador ordena a primeira entrada que atravessa o Vale do Paraíba em 1596.
É o primeiro documento a respeito de penetração de portugueses no Vale.
João Pereira de Souza Botafogo sai da vila de São Paulo, com uma entrada, em busca da serra de prata, e em outubro de 1596 atravessa o Vale, transpõe a Mantiqueira e se perde nas vertentes do Rio Sapucaí, no alto, já em terras de Minas Gerais (lembrando que ainda não havia a divisão entre São Paulo e Minas, era um território sendo desbravado) mas nada encontra.
O governador não desistiu. Em 1601 é organizada uma segunda entrada, comandada por André de Leão. Sai de São Paulo, atravessa o Vale do Paraíba e pela Garganta do Embaú, em Cruzeiro, atinge a Mantiqueira e chega à nascente do rio São Francisco, e se desfaz, sem nada encontrar.
Texto: Marina T. F. C. Pinto / Referência: Coelho, Benedito Carlos Marcondes. “A História de Guaratinguetá no Período Colonial”. / Imagem: Ubatuba, 1827 de Jean Baptiste Debret.
Após os primeiros passos de exploração do Brasil pré-colonial, o rei à época, d. João III de Portugal, efetivou em 1530 a colonização e o primeiro governo central, dividindo as terras brasileiras em capitanias hereditárias.
As capitanias hereditárias, como o próprio nome diz, eram terras que passaram de pai para filhos de nobres que tinham cargos de confiança do rei para, assim, habitar e povoar as terras brasileiras. Nessa época de organização do Brasil Colonial, o rei de Portugal confiou a Martim Afonso de Sousa a missão de desbravar territórios ao litoral, procurar metais preciosos e fundar povoações.
Martim Afonso se destacou por ter formado o primeiro engenho da colônia, o Engenho do Governador, situado no centro da Ilha de São Vicente, região do atual Estado de São Paulo, ou seja, ele era o donatário das terras no período em que as terras do Vale eram apenas um sertão que, também por ele, foi confiado a João Ramalho e Antônio Rodrigues, os primeiros desbravadores das terras.
Nesse contexto surge uma personagem interessante que irá contribuir para a formação geográfica e para a fundação das primeiras cidades do vale paulista, Mariana de Sousa Guerra, a Condessa de Vimieiro (fidalga portuguesa) que era neta de Martim de Afonso de Sousa e esposa de d. Francisco de Faro, e que em 1611 tornou-se herdeira da Capitania de São Vicente após a morte de seu pai, Pero Lopes de Souza.
Por volta de 1620, a Capitania de São Vicente foi dividida. Foi quando a Condessa de Vimieiro tornou a Vila de Itanhaém, na Baixada Santista, a sede da nova capitania, com o nome, portanto, de “Capitania de Itanhaém”, que se estendia do rio Juqueriquerê, em São Sebastião, até Angra dos Reis, no Rio de Janeiro. Mas ser dona das terras não foi algo fácil.
Em 1624, o domínio dessas terras foi contestado pelo seu parente próximo, Álvaro Pires de Castro e Souza, Conde de Monsanto, que se apossou das vilas de Santos e São Vicente.
A Viscondessa de Vimieiro não queria perder mais territórios. Assim, a primeira mulher a ter domínios das terras brasileiras entra em ação.
Ela confia aos primeiros povoadores da região do Vale, e em 1636, concedeu a provisão que dava direito ao fundador do primeiro núcleo de Taubaté, Jacques Felix, para penetrar o sertão e povoar em seu nome.
E em 1646, Jacques Félix concedeu ao capitão Domingos Luiz Leme, morador da Vila de São Paulo, uma grande sesmaria no sertão de Guaratinguetá, dando origem a uma povoação elevada à categoria de vila em 13 de fevereiro de 1651, com o nome de “Vila de Santo Antônio de Guaratinguetá”, levantando o pelourinho e instalando a primeira Câmara Municipal.
Texto: Marina T. F. C. Pinto / Referência: VELOSO, João José de Oliveira. A história de Cunha-Freguesia do Facão-A rota da exploração das Minas e abastecimento das tropas. Cunha-SP. Centro de Cultura e tradição de Cunha, 2010.Almanaque Urupês. A dona de Taubaté. / Fotografia Retirado do Almanaque Urupês.
Santo Antônio de Pádua, o santo casamenteiro e das causas perdidas, nasceu português, porém, parece que nasceu com a alma brasileira devido à sua popularidade. Para se ter uma ideia, somente no Brasil são 5 arquidioceses, 10 dioceses, 24 catedrais e 13 municípios brasileiros que o têm como padroeiro.
Santo Antônio nasceu em Lisboa no dia 15 de agosto de 1195 e foi batizado como Fernando de Bulhões, mas quando se converteu mudou o seu nome para Antônio em homenagem a Santo Antão. Nasceu em família fidalga, e quando jovem estudou e ingressou na Ordem dos Cônegos Regulares de Santo Agostinho. Mais tarde regressou para a Ordem dos Frades Menores de Francisco de Assis.
Um ano antes de sua conversão, o santo hospedou cinco Frades Menores que iam missionar em Marrocos, e em 1220, viu passar pela mesma Coimbra os restos mortais dos cinco frades, martirizados. Esse acontecimento o comoveu, fazendo com que decidisse entrar na Ordem Franciscana.
Assim, tornou-se um pregador ardoroso da Palavra de Deus em vários lugares da Europa. O próprio Francisco de Assis o nomearia professor de Teologia dos Frades na escola bolonhesa. Também pregou no sul da França na defesa da cristandade romana contra a chamada heresia albigense ou cátara. Lecionou Teologia em Montpellier até que em 1227 foi nomeado provincial das províncias do norte italiano, fixando residência em Pádua.
Após a morte de Francisco de Assis, Frei Antônio prosseguiu na sua missão de pregador e professor até 1231, quando adoeceu de febres, possivelmente acometido de hidropisia. Em 13 de junho, sofreu forte crise e morreu, aos 36 anos. No ano seguinte foi canonizado pelo papa Gregório IX, tornando-se Santo Antônio de Lisboa, também chamado de Santo Antônio de Pádua.
A devoção tão característica no Brasil a Santo Antônio vai muito além de sua popularidade por ser santo casamenteiro que realizou muitos milagres em vida. A fama de casamenteiro deve-se à lenda que dizia que em Nápoles havia uma moça cuja família não podia pagar seu dote para se casar. Desesperada, a jovem – ajoelhada aos pés da imagem de Santo Antônio – pediu com fé a ajuda do santo, e, milagrosamente, conseguiu casar-se com um comerciante. Mais que ser um santo casamenteiro, a devoção a Santo Antônio diz muito sobre a nossa influência portuguesa na cultura e a sua participação de devoção na história do Brasil Colonial.
Um fato emblemático na história do Brasil atribui a ele a conquista do território pernambucano durante a invasão holandesa no período da colonização portuguesa. Segundo Vainfas, no Brasil Colonial (1530-1808), foi o momento de colocar em cena aquele que talvez tenha sido o artífice da elevação de Santo Antônio, não apenas à condição de padroeiro dos portugueses, mas à posição de mentor político das guerras de resistência contra os inimigos de Portugal. A vitória dos portugueses contra os holandeses criou a crença, assim como os hebreus na Antiguidade, da intervenção de Santo Antônio a favor dos portugueses.
Sendo assim, Santo Antônio transformou-se participante ativo na construção das primeiras cidades brasileiras, e muitas delas o elevavam a santo intercessor, patrono de hospitais, irmandades, confrarias e obras de assistência. De acordo com o Livro Tombo da Matriz de Guaratinguetá, no dia 13 de junho de 1630 foi erguida uma capela de pau a pique em homenagem ao santo. Tê-lo como padroeiro era a certeza de não ser apenas protegido, mas de ser abençoado com a sua proteção e milagres.
Texto: Marina Tatiana F. C. Pinto / Arte e fotografia: @vmarins1 @rmarquezini @i_mmagens / Referências: VAINFAS, R. (2003). SANTO ANTÔNIO, NA AMÉRICA PORTUGUESA: RELIGIOSIDADE E POLÍTICA. Revista USP, (57), 28-37 / https://www.portalviu.com.br/arte/entenda-como-santo-antonio-se-tornou-um-grande-casamenteiro / https://noticias.cancaonova.com/brasil/santo-antonio-conheca-cidades-e-dioceses-que-tem-o-santo-como-padroeiro/
Caminhando rumo aos 391 anos, a cidade de Guaratinguetá data sua fundação no ano de 1630, mas alguns documentos históricos propõem um certo questionamento a respeito.
No livro intitulado L' Empire Du Brésil, Monographie complète de L'Empire Sud-Américain ( O Império do Brasil, Monografia Completa do Império Sul-Americano) publicado em 1862 na França, do autor francês Baril Comte de La Hure, dedicado ao Imperador Dom Pedro II, registram inúmeras vilas pertencentes as províncias do Império do Brasil, sendo uma delas nossa querida Vila de Santo Antônio de Guaratinguetá.
Mas um fato curioso chama a atenção:
No livro que nasceu como presente ao Imperador do Brasil pela alcunha de ser um registro geográfico fidedigno do território do Império, data a fundação de Guaratinguetá em 1651, 21 anos após a data encontrada nos registros "oficiais”, porém o ano de 1651 é conhecido por ser a data da elevação de Guaratinguetá para Vila e não de sua fundação que teria ocorrido em 1630. A curiosa expressão em francês “ fut fondée en 1651” parece não deixar dúvidas de que, para La Hure, a referida data seria de sua fundação e não da conhecida elevação à vila. O que deixa complexo as informações é o riquíssimo trabalho e comprometimento de Baril Comte de La Hure com a sua obra para compor um equívoco.
Ainda nessa linha de teorizações sobre nossa verdadeira fundação, uma curiosíssima lenda vagueia pelos corredores empoeirados dos arquivos sobre a nossa cidade. Trata-se da suposta troca de Sesmarias de Guaratinguetá por um cacho de bananas de ouro presenteadas ao rei D. Afonso VI por Manoel João Branco, um rico comerciante da Mooca na província de São Paulo que decidiu ir até Portugal para pessoalmente “beijar as mãos do Rei”, levando em sua bagagens alguns presentes do Brasil, um deles, um cacho de bananas de ouro. Essa curiosa história está registro do livro “Nobiliarchia Paulistana”, do pesquisador Pedro Taques de Almeida Paes Leme. Em um trecho diz:
“A real grandeza lhe franqueou as portas para que pedisse, e foi tão material este caduco velho, que não quis mais mercês do que a de uma data de 11 léguas de terra em quadra no sertão (hoje Vila de Guaratinguetá), no Rio Guaipacaré, que existia inutilmente, sem chegar a cultura delas aos seus descendentes que, por moradores de São Paulo, desprezavam aquelas terras. De Portugal voltou Manoel João Branco supondo que nessa data trazia o maior morgado.”
De qualquer maneira, o fato acende ainda mais os mitos e lendas em volta do nascimento das Terras de Onde o Sol Retorna (como os índios a chamavam) e engrandece ainda mais as histórias de nossa terra na Europa do séc. XIX.
Texto: Marina Tatiana F. C. Pinto e Tiago Xavier / FONTES: Arquivo: BNF Gallica - Biblioteca Nacional da França - Livro: L' Empire Du Brésil, Monographie complète de L'Empire Sud-Américain, V. L. Baril, Comte de La Hure. Ferdinand Sartorius, 1862, 1ª edição. - LEME, Pedro Taques de Almeida Pais. Nobiliarquia paulistana: Genealogia das principais famílias de São Paulo. Rio de Janeiro, RJ: Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, 1869
Todos os dias 13 do mês de junho, dia de Santo Antônio, muitas igrejas costumam repartir pequenos pães bentos entre os fiéis. Trata-se de uma tradição de tantos milagres do santo, o “milagre de Tomazinho”. Certo dia, Tomazinho estava brincando sozinho. Quando a mãe dele foi chamá-lo, encontrou-o sem vida, afogado em uma vasilha com água. Desesperada, ela invocou a ajuda de Santo Antônio. Na oração, fez uma promessa: se conseguisse a graça de ter seu filho vivo novamente, ela daria aos pobres a quantidade de pão proporcional ao peso do bebê. O menino “acordou” milagrosamente e deu vida à tradição.
Hoje em dia, muitos fiéis costumam fazer os pães e levá-los para serem abençoados na Missa. Depois, fazem a distribuição para amigos e familiares em sinal de agradecimento ou em forma de um pedido.
Em Guaratinguetá, essa tradição acompanha desde os primeiros passos da capelinha feita de pau a pique em 1630 e da primeira Irmandade Santo Antônio em devoção ao santo casamenteiro e das causas perdidas.
Texto: Marina Tatiana F. C. Pinto
A instituição escolar não era um percurso para todos, e os professores eram contratados pelas famílias. Com o avançar da sociedade Imperial, a educação das primeiras letras acontecia, em pequenos estabelecimentos de escolas particulares, que atendiam separados meninos e meninas.
A maioria somente ensinava as primeiras letras e matemática. Uma das escolas que existiam na época era a escola feminina da professora Porcia Clementina de Castro Santos, carinhosamente conhecida como “Dona Porcinha”. Há uma rua em sua homenagem no bairro Campo do Galvão.
Texto: Marina Tatiana F. C. Pinto / Foto: Escola Caetano de Campos, São Paulo. / Referência: Senna. Homero. Um mineiro de Guaratinguetá. Gráfica do IBGE. 1974. / https://brasil.elpais.com/sociedade/2020-03-04/lei-escolar-do-imperio-restringiu-ensino-de-matematica-para-meninas.html
No início do século XX, a fotografia se tornou um recurso maravilhoso, tanto para registrar grandes eventos sociais como recordações familiares, e servindo, como documento do processo de modernização urbanística que o Brasil estava vivenciando. Em Guaratinguetá não foi diferente.
Na década de 1930, em meio à República comemorávamos 300 anos de sua fundação. Neste período quase todas as cidades brasileiras tinham um fotógrafo profissional contratado pela prefeitura para registrar os marcos e as características da cidade.
Sendo assim, em Guaratinguetá viveu e criou sua família um autêntico alemão que fotografou as maravilhas e as mudanças que Guaratinguetá vivenciava na década de 1930. Há várias páginas do Facebook, como Vale Ver Guará, Memórias Guaratinguetá, Fotos e fatos de Guará antiga, entre outras que compartilham sobre Guaratinguetá de antigamente, através de fotos, o testemunho daquela época.
Mas quem foi esse alemão que exerceu sua paixão pela sua profissão e pela cidade? O fotógrafo chamava-se Erwin Schellenberg. Quando se instalou com sua família em nossa cidade, pediu autorização do fotógrafo oficial, Ernesto Quissak, que gentilmente passou o bastão para seu colega de profissão, já que na época começou a dedicar exclusivamente à sua vocação artística, às suas pinturas e quadros, o que o tornou reconhecido tanto no Brasil quanto no mundo.
Erwin Schellenberg nasceu no dia 02 de julho de 1898 em Heilbronn- Boecking na Alemanha e faleceu em Guaratinguetá em 23 de agosto de 1978. Era casado com Anna Spechtt Schellenberg com quem teve 3 filhos.
Após ser convidado pelo prefeito da época, Pedro Marcondes, para a festividade do Tricentenário de Guaratinguetá, em 1 de maio de 1930 fundou seu estúdio, que se chamou FOTO GUARÁ, que funcionou até 1978, quando faleceu aos 80 anos. O último endereço foi na rua doutor Martiniano, na rua e cidade que tanto amou.
Após sua morte, o acervo fotográfico de Schellenberg em chapas de vidro, se tornou um patrimônio e legado familiar. Até 2005, o acervo ficou intocável, até que seu filho Otto Schellenberg, decidiu transformar as fotografias em um livro. Ele fez todo o trabalho para a digitalização do acervo do seu pai. Quando estava em acabamento,
Otto faleceu, em 19 de maio de 2006 aos 75 anos. Coube então á próxima, geração, entrando em cena Heidi Schellenberg, filha de Otto e neta de Erwin Schellenberg. Heidi que também é fotógrafa, nos presenteou com a rica obra: Foto Guará: antigas imagens de Guaratinguetá, publicada em 2016 pela Editora O Lince.
Só temos que agradecer pela rica homenagem do fotógrafo alemão e à sua família que nos possibilita contemplar a cidade de Guaratinguetá do passado e, assim, projetarmos para um futuro melhor!
Texto: Marina Tatiana F. C. Pinto / Foto: Vale Ver Guará, colab: Zeck Broca. / Referências: Schellenberg,Heidi. Foto Guará-Antigas Imagens de Guaratinguetá. Aparecida: Editora O Lince, 2016. COELHO, Maria Beatriz R. De V. O campo da fotografia profissional no Brasil, Scielo Brasil, 2008. / BARBOSA, Alexandre- Sob as lentes de Schellenberg. Jornal O Lince, Aparecida, 20 out, 2015,p.21-23 / ARQUIVO “PERSONALIDADES ILUSTRES”. ARQUIVO MEMÓRIA DE GUARATINGUETÁ- MUSEU FREI GALVÃO.
Como mencionado no artigo anterior, Guaratinguetá, em 1855, vivenciou o surto da cólera. Lembrando que na época as condições sanitárias e a medicina hospitalar não eram acessíveis a todos. Porém, o que chama a atenção são os conselhos médicos para vencer a angustiante epidemia daquele período.
Evitar :atmosfera impura e úmida e moradias sem ventilação e sol, excesso de comida e bebida, falta de coberta e coberta à noite.
A principal recomendação era a higiene mental: as distrações e alegrias eram indicadas como terapia, e aborrecimentos deveriam ser evitados. Tranquilidade de espírito, ânimo e confiança eram as disposições espirituais mais favoráveis de resistir à cólera.
Texto: Marina Tatiana F. C. Pinto / Referência: FABIANO, Belinha Maia. A cólera em Guaratinguetá no século passado. ARQUIVO MEMÓRIA DE GUARATINGUETÁ-MUSEU FREI GALVÃO-1992.